As pessoas dão importância demais a essas palavras. Elas não mudam a vida de ninguém.
São apenas uma expressão do momento, uma declaração de tesão. Amo você neste minuto. Só.
Talvez haja um jeito diferente de cada pessoas sentir o amor.
Talvez homem e mulheres tratem isso de formas distintas.
Nós, homens, costumamos jogar na defesa. A cultura masculina recomenda desde a adolescência agir com cautela. É comum um amigo dizer ao outro, com a melhor das intenções: "Não deixe ela perceber que você está tão apaixonado".É por isso que filmes e novelas tratam com esmero aquele momento da trama em que o homem (sempre um bruto com dificuldades emocionais) finalmente se confessa apaixonado – em geral com palavras toscas, relutantes, mas sempre carregadas de sentimentos. É um clichê que invariavelmente comove as mulheres.
Com as mulheres sempre foi diferente. Por alguma razão elas têm menos receio de expressar seus sentimentos. Os homens quase sempre são pegos de surpresa por aquelas palavras sussurradas no ouvido, depois de um abraço apertado: eu te amo!Como reagir a elas, o que responder? Essa é uma velha questão, que não tem resposta única.Há quem vá na onda e solte o clássico – e pífio – "eu também". Acho feio.
Prefiro os que lidam com a situação de forma realista. Ouça, respire, sorria, diga algo gentil – mas não minta. Eu mesmo devo ter dito as três palavras mágicas apenas meia dúzia de vezes, e nunca na forma de "eu também".
Quer dizer então que homens não têm sentimentos?Não. Quer dizer que em geral precisamos de mais tempo para expressá-los. Quer dizer também que temos outra linguagem.
O afeto masculino se traduz em atenções, em presença constante, em alegria de rever. E em desejo, claro. As palavras vêm depois, quando vêm."Eu te amo", para muitos homens, pode ser impronunciável antes da hora. Pode soar postiço, mentiroso, meio escroto se não for totalmente sincero. Ou tomar a forma de um compromisso pesado para os que levam as palavras a sério.
Há uma série de outros verbos – gostar, querer, sentir falta – que pavimentam o caminho antes que o sujeito, afinal, se decida a dizer o indizível. Quando estiver pronto para fazê-lo.
Diante das irrevogáveis diferenças de estilo e temperamento, sugiro uma solução de compromisso.
Diante das irrevogáveis diferenças de estilo e temperamento, sugiro uma solução de compromisso.
Quem gosta de dizer "eu te amo", diga: desabafe, solte o coração, comova-se. "Eu preciso dizer que te amo", cantava o Cazuza. Faz sentido. E o tempo se encarrega de corrigir equívocos.
Mas não exija, por favor, que o outro faça o mesmo. Para alguns, as palavras têm de ser vividas demoradamente antes de pronunciadas. É amor do mesmo jeito, mas quietinho.
A partir da Revista Época.
A partir da Revista Época.
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